Agulhas têm sido uma constante em minha vida ultimamente, sejam pelas agulhadas diárias para tomar insulina e tratar bem a diabetes ou pelas diversas agulhas existentes pelo estado do Rio de Janeiro. As montanhas em forma de agulhas são bem especiais e impressionantes, geralmente com uma base mais larga e vai afinando na medida que eleva a altitude, podendo chegar a cumes finos e pequenos que só cabem uma pessoa. São montanhas bem fotogênicas, como a Agulha do Diabo e o Dedo de Deus, escaladas que já foram relatadas por aqui.
A Agulha Guarischi é uma montanha pequena, no meio do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), em Niterói e Maricá, entre o Alto Mourão (Pedra do Elefante) e o Costão de Itacoatiara. Obviamente, na primeira vez que ouvimos falar dela, já entrou para a lista das escaladas-que-temos-que-fazer-enquanto-moramos-aqui. Adiamos um pouco a empreitada pois estávamos priorizando os finais de semana de frio (leia-se: calor menos infernal) para conhecer a região serrana do Rio de Janeiro. Além disso, como se tratava de um lugar espetacular próximo ao Rio, acabamos colocando na lista de escaladas-para-fazer-com-amigos-de-fora, e assim, aproveitamos as visitas e os lugares novos (100% de aproveitamento dos curtos e poucos finais de semana do calendário). O mesmo vale para pontos turísticos na cidade do Rio de Janeiro que ainda não fomos, e que estamos esperando a visita de parentes e amigos para ir!!!
Enfim chegou o festival de cinema de montanhas no Rio (= escaladores de outras cidades e estados no Rio de Janeiro + visitas de amigos) e junto com ele vieram o Bonga e a Gio, de Curitiba e o Lugoma de BH, que queriam escalar algo diferente no Rio. Juntando a fome deles com a nossa, combinamos de ir à Nikiti conhecer a Agulhinha Guarischi, no dia 20 de outubro.
O PESET é um dos parques em que trabalhamos (você conhece? nãooo?? Tem que conhecer!! Todo mundo que conhece é apaixonado) e chegando lá logo fomos recepcionados pelo Fernando Matias (gestor do Parque), o Marcelo (monitor ambiental) e alguns guarda-parques. A trilha para ir à Agulha é, inicialmente, a mesma que vai para o Costão, só que então seguimos para a Enseada do Bananal (que é linda demais) e logo pegamos um caminho meio batido para a Agulha Guarischi. Rapidamente chegamos na base.
Enquanto todo mundo se preparava, medi a glicemia e comi uma barrinha de frutas. O início da via estava meio úmido, e o Bonga e a Gio começaram a escalada e logo em seguida, Ale, Lugoma e eu, com uma corda dupla.
A via é linda (Paredão Zezão), com cinco esticões, uma diagonal com bastante atrito (é bom colocar uma costura longa, bem longa mesmo), uma aresta maravilinda, e um visual alucinante do Alto Mourão, do Costão, da praia de Itacoatiara, do mar, e ao fundo, o Pão-de-Açúcar, do outro lado da baia de Guanabara. Vimos vários escaladores no Costão, e pesquisando em casa depois, nesse dia também teve a “II Invasão do Costão”, e no mesmo blog, descobri que esse dia também era o 57° aniversário da conquista da Agulha Guarischi. Que honra ter sido convidada pela montanha para comemorar seu aniversário de escalada!
Depois do terceiro esticão (lá no Paraná é cordada), tem um belo platô, com bastante vegetação, e foi o momento que aproveitei para aplicar a insulina basal. O Lugoma aproveitou para tirar algumas fotinhos do visual alucinante, e para ser “modelo” do InsulinAção!
O cume da Agulha Guarischi é único, com uma espessura de alguns pouco centímetros, e temos que ficar ancorados. Quando chegamos no cume, estava lá também o André Ilha, participando de uma filmagem para o programa Montanhistas do Canal Off, escalando a Aresta Leste da Agulhinha, uma via que ele conquistou em 1979 (quando eu comecei a ser um projeto de gente).
Logo que cheguei no cume, comi uma barrinha de frutas, pois senti que podia estar começando ter hipoglicemia. Arrumei as cordas para o rapel e medi “malabaristicamente” a glicemia, que estava 115, e então resolvi comer um sanduíche-delícia que preparei com tomate seco e queijo, sem aplicar insulina, pois percebi que meu corpinho estava usando todo o carboidrato que tinha direito.
Fizemos dois rapeis e no mesmo platô em que apliquei a insulina basal, encontramos um rapaz de Niterói que havia subido por uma trilha, e descemos com ele ao invés de fazer mais rapéis. Foi bom para conhecer, ver os escombros do avião da Força Aérea Brasileira que colidiu com a Serra da Tiririca em 2001, mas a trilha é bem íngreme e frágil, não é muito legal usá-la, e no fim, acho que descendo de rapel, teríamos ido mais rápido, ou menos impactante.
Ficamos um tempo “explorando” a Enseada no Bananal, e então fomos embora, comer um peixe fresco na comunidade de pescadores de Itaipu, onde recentemente foi criada uma Reserva Extrativista, com um pôr-do-dol alucinógeno, para fechar um dia bão dimais, sô!
Valeu pessoal, beijos e até o próximo cume!