Pão de Açúcar recomendado aos diabéticos – via Chaminé Stop

No dia 04 de agosto,  conseguimos convencer o Leandro a escalar o Pão de Açúcar  pela Chaminé Stop.  O Lê diz que não gosta de chaminé (mas no fundo sei que adora), mas não teve muita opção além de ir com a gente, enquanto a Grazi fazia um concurso.

Muitas voltas para estacionar o carro, calor já começando, não demorei muito para sentir os primeiros sintomas da hipoglicemia, ainda caminhando na pista Claudio Coutinho (5 minutos de caminhada). Fui ficando cada vez mais para trás dos meninos, já meio confusa. O Ale me vê quase lá longe e logo pergunta – “que foi?”  – “Acho que preciso comer alguma coisa”, respondo ofegante e trêmula, típico de uma hipoglicêmica. Paramos num banco, pego uma barrinha e engulo com duas mordidas, penso nas minhas balinhas, quando o Lê me mostra um suculento pão doce, com aquela massa cremosa amarela “puro açúcar vem-me-dar-umas-mordidas”. Nem penso duas vezes em escutar os chamados do pão doce, e já traço dois pedaços, suficientes para parar com a hipoglicemia quase instantaneamente, e assim podemos seguir caminhando mais 30 minutos, até a base da via.

Geralmente, quando ocorrem as hipoglicemias, após a alimentação, a glicemia demora uns 15 minutos para voltar ao “normal”, isso é, para acabar a tremedeira, a sudorese, a falta de orientação, a taquicardia, etc, e voltar a ser “eu” novamente. Quando a hipoglicemia passa, é uma sensação de alívio imensa: é uma das melhores sensações que tenho hoje em dia, já que se segue a uma das piores.

Medindo a glicemia antes da escalada, na base da via, depois de já ter tido uma hipoglicemia no caminho.
Medindo a glicemia antes da escalada, na base da via, depois de já ter tido uma hipoglicemia no caminho.

Quando chegamos na base da via, que é bem onde o “Totem” (uma grande protuberância de rocha) encontra o Pão de Açúcar, só para variar um pouco, tinha gente. Dessa vez, um casal de franceses, que estavam quase começando a escalar. Fizemos a via toda com eles, praticamente. No platô antes do “buraco da galinha” eles deixaram a gente passar, e depois da chaminé em “L”, não os vimos mais.

 

A via é uma das clássicas do Rio de Janeiro, recomendo a todo escalador (tirando a picada de marimbondo que levei logo na primeira cordada), e é um prato cheio para quem curte chaminé. Apesar de ser chaminé relativamente fácil, as proteções são longas, o que torna a via exposta, e o caboclo tem que ter cabeça boa.

 

Ale subindo a chaminé: pés contra as duas paredes, braços ajudando a empurrar o corpo, e a mochila pendurada. A corda rosa é dos franceses, que estavam um pouco perdidos na via.
Ale subindo a chaminé: pés contra as duas paredes, braços ajudando a empurrar o corpo, e a mochila pendurada. A corda rosa é dos franceses, que estavam um pouco perdidos na via.

Antes dessa via, eu não era muito íntima de chaminés: minhas coxas arderam a via inteira, praticamente, por conta do esforço para empurrar o corpo e puxar a mochila (que vai pendurada) para cima. Por conta de todo o esforço físico intenso, em cada “parada” (entre dois esticões de corda), eu comia uma barrinha de frutas. O Lê ficou espantado com a quantidade de barras de frutas que comi durante a escalada. Aliás, nessa escalada, se eu não estava comendo, eu estava escalando, e se não estava escalando e fazendo a segurança, estava comendo… na verdade, acho que ele ficou mais espantado por que eu não oferecia muita comida pra ele… em um dia com fortes tendências à hipoglicemia, como já havia se mostrado o início do dia, me dou o direito de ser “mal educada” (foi mal, mãe, deve ser duro saber disso de uma filha…).

Voltando à via, a visão da praia vermelha e do bondinho subindo e descendo é uma constante. Olhava aquele pessoal na praia, e com certeza ninguém fazia idéia que tinha gente subindo por ali, já que a via é bem pra dentro da montanha, sendo difícil visualizar os escaladores.

A gente vê o bondinho, mas tenho minhas dúvidas se o bondinho vê a gente - vista do meio da Chaminé Stop
A gente vê o bondinho, mas tenho minhas dúvidas se o bondinho vê a gente – vista do meio da Chaminé Stop
Aplicando insulina de ação lenta confortavelmente no salão azul
Aplicando insulina de ação lenta confortavelmente no salão azul
Praia Vermelha vista do meio da Chaminé Stop
Praia Vermelha vista do meio da Chaminé Stop

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois de três enfiadas de corda, já no “salão azul”, um super mega platô no meio da chaminé, apliquei minha insulina de ação lenta e comi um sanduichinho. Depois tem um trecho que passa por uma “caverninha”, que pode ser interessante o escalador que está guiando ter uma lanterna de cabeça, pois fica bem escuro, e na enfiada seguinte, tem o “buraco da galinha”, uma passagem (cujo nome é bem adequado) que quem está embaixo só vê os pés do escalador sacudindo no ar, tentando encontrar a parede para se empurrar, e quem está em cima, só vê a cabeça surgindo do buraco, e depois o corpo, se o caboclo não for gordinho (há histórias de gente que ficou entalada… deve ser uma experiência de constipação beem desagradável…).

Entrando no Buraco da Galinha
Entrando no Buraco da Galinha
Saindo do Buraco da Galinha
Saindo do Buraco da Galinha

Depois do buraco da galinha, tem a “chaminé em L”. Pior que fazer uma chaminé estreita, é  você ter que subi-la horizontalmente (por isso o “L”), ou  diagonalmente, com as pernas ardendo de tanto esforço, o grampo de proteção você nem consegue ver, a corda raspando na picada de marimbondo e com um ambiente propício para você pendular e ser ralada entre duas paredes. Pior ainda é você subir isso achando que vai ter que voltar pra casa engatinhando, enquanto o seu maridão, que guiou a cordada sem soltar um suspiro, fica caçoando da sua cara por que suas perninhas estão sem força e você usa as mãos para puxá-las:

– hahaha Lê, olha só, ela está puxando as pernas!!

– grrrr

– ops, ela escutou…

Conferindo a glicemia depois da escalada
Conferindo a glicemia depois da escalada

Depois, é só mais uma cordada, e logo um barranco com terra deslizando, onde se tem que agarrar no bambuzal pra não deslizar junto com a terra para finalizar a escalada! A partir daí é só curtir o pôr-do-sol, pegar uma carona com o bondinho (privilégio de escaladores na cidade maravilhosa!) e fazer mais uma caminhadinha de 40 minutos descendo o Morro da Urca até o carro. Mas antes do pôr-do-sol, o Lê jogou na minha mão o resto do pão doce. Yes!!!! 😀 Mesmo com tantos açúcares durante o dia, a escalada terminou com 99 de glicemia, sem um pingo de insulina rápida…. ou seja, o Pão de Açúcar pela via Chaminé Stop, é altamente recomendado para diabéticos!!

Pôr-do-sol carioca, visto do Pão-de-Açúcar
Pôr-do-sol carioca, visto do Pão-de-Açúcar
9
Isso que dá escalar com uma diabética: os bichinhos ficam famintos!!

 

 

Finalizamos o dia com uma comida muito gostosa, um aipim maravilhoso, na casa do Alexandre – Careca e Lu, com a companhia da Grazi. Comi muito, mas muito mesmo, com vários pedaços de aipim amanteigados (pensa em uma delícia, pensou? Era esse aipim!), com apenas uma dose de insulina rápida, e após o jantar, 122 de glicemia. Depois dessa, dá até vontade de escrever para a Sociedade Brasileira de Diabetes recomendando o Pão de Açúcar para todos os doces!

 

Glicemia durante o dia de escalada no Pão de Açúcar, pela Chaminé Stop
Glicemia durante o dia de escalada no Pão de Açúcar, pela Chaminé Stop

 

Beijos e até o próximo pico!

 

  • Leandro Sousa

    Muito bom, realmente você não ofereceu nenhuma barrinha!!!! Bjss casal ..

  • Soraya Fernandes Martins

    Lindas fotos, Gali! Que escalada legal! Saudade de vocês tod@s!