A Agulha do Diabo, montanha encontrada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO) no meio de tantas outras montanhas com nomes bíblicos e santos (Morro São João, Pedra da Cruz, São Pedro, Dedo de Deus, Verruga do Frade), sem dúvidas está entre as montanhas mais lindas que já conheci (a concorrência é árdua!) e escalar essa montanha, é um privilégio que exige muita disposição. Essa escalada é considerada como uma das 15 mais espetaculares do mundo
Coincidentemente, no dia que voltamos da Agulha do Diabo, passou na televisão um programa sobre a escalada nessa montanha, onde dá para perceber a imponência dessa montanha e o tamanho da aventura (vale a pena ver a reportagem depois de ler o meu relato!).
Para chegar lá, saímos do Rio, no dia 14 de setembro, às 4h30min, e encontramos o Leandro no portão do PARNASO, as 6h00. Entre fazer o cadastro, assinar o Termo de Reconhecimento de Risco, estacionar o carro, etc, começamos a caminhada às 6h40. A trilha inicial é a mesma que sobe para a Pedra do Sino (famosa montanha da Travessia Petrópolis-Teresópolis), daí até chegar na Cota 2000, e pegar o Caminho das Orquídeas (cheio de Sophronites sp).
A partir daí, após curtir um pouco o visual da “pedra da mesa” e comer um sanduíche (com direito a medir a glicemia e tomar a insulina de ação rápida), seguimos até chegar onde iríamos dormir, próximos ao Rio Paquequer. Chegamos nessa área às 9h30 min, separamos o material da escalada e deixamos o saco de dormir, fogareiro, isolante, etc, e continuamos a caminhar em direção à Agulha do Diabo.
Depois de uns 30 minutos, chegamos no Mirante do Inferno, e nos encontramos entre extasiados com a beleza, a imponência da montanha e a dúvida de como íamos chegar até lá, já que entre nós e a Agulha, tinha o Caldeirão do Inferno (um vale profuuuundo que teríamos que atravessar antes de chegar na montanha), e o mirante se encontra em um precipício, que não se mostrava muito amigável em ser descido… depois de andarmos um pouco para lá e para cá (não conhecíamos o caminho e nossas principais referências estavam anotadas em papéis depois de uma conversa telefônica de um amigo do Ale que conhecia a escalada), percebemos que tínhamos que voltar para a trilha, pois a chegada ao mirante era um desvio da trilha principal da Agulha, e descer beirando a direita do morro São João.
Na descida para o vale, por conta de nossa pequena “perdida”, encontramos um grupo de três petropolitanos que também estavam indo escalar a Agulha. Fenômeno típico fluminense, sempre encontramos pessoas indo escalar as mesmas vias que a gente, ou nas mesmas trilhas, sejam estas em montanhas próximas ao centro do Rio, ou mais remotas, com horas de caminhada.
O vale é bem íngreme, e assim rapidamente chegamos na base da via. Na descida do vale, comecei a sentir sintomas de hipoglicemia e rapidamente comi uma barra de frutas, enquanto caminhava. Na base da via, aproveitamos para fazer um lanche (comer um sanduíche de atum com queijo = medir glicemia + aplicar insulina de ação rápida + aplicar insulina de ação lenta, pois era meio-dia, a hora de me dedicar um pouquinho mais ao meu pâncreas), enquanto os petropolitanos se preparavam para escalar.
Confesso que subestimei um pouco a via, achei que a escalada ia ser bem mais tranquila do que foi, e já levei uma rasteira na saída da via, em um diedro misturado com chaminé apertada e domínios em aderência. Muita coisa misturada em apenas um lance de escalada, haja presença de espírito para continuar subindo!
As cordadas variavam entre pequenas caminhadas com alguns lances artificiais (neste caso a subida foi realizada com a utilização de apoios fixos na rocha), lances mais técnicos, nada confortáveis, e até amedrontadores, como o lance do cavalinho, que o Alexandre guiou de forma exemplar, mas cujo exemplo seus companheiros de escalada não conseguiram seguir: tive que engolir o choro para passar o lance me entalando na fenda com um braço e uma perna e me arrastando entre as duas pedras.
Depois do lance do cavalinho entramos na chaminé da unha, que é a chaminé mais estreita que já entrei: não sei como pessoas menos magras do que eu conseguem andar nessa chaminé, pois temos que atravessá-la de um ponto a outro para começar a subi-la – e olha que uma das coisas mais fáceis desse mundo é ser menos magro que eu.
A chaminé da unha, como ia escrevendo, começa sendo a chaminé mais estreita que já entrei, e logo ela se torna uma das mais largas que já entrei… Dizem ainda, que a unha se move enquanto se escala. Não consegui reparar nisso, só queria subir logo para poder me desentalar novamente.
(e depois dizem que a via é fácil, um III grau… há controvérsias, muitas controvérsias….rsrs)
No topo da unha, chegamos ao último lance, que é feito em cabo de aço, pela fina aresta da agulha, com um lance bem aéreo no final. Nesse momento, os petropolitanos começaram a rapelar do cume, e nos encontramos de novo. Assim chegamos no pequeno cume da Agulha, só pra gente! No cume, que é bem pequeno, a gente tem que ficar ancorado (presos com a autosegurança nas proteções fixadas na rocha), para não cair (mãe, finge que não leu essa parte, ok?)
Lindo visual, escalada emocionante (está entre as 15 mais emocionantes que já fiz – parodiando o site das escaladas espetaculares), escrevemos no caderninho de cume (que está lá desde 2007, indicando que são poucas as pessoas que topam essa empreitada!), medição da glicemia (como será que minha doçura se comportou diante de tanta emoção?), e lanche rápido, para já iniciarmos a descida, em três rapéis sem muita emoção (ufa, não sei se meu coraçãozinho de geleia ia aguentar engolir mais choro!)
Seguimos pelo Caldeirão do Inferno já com lanternas, até chegar na área onde dormimos em um confortável bivaque (= dormir sem barraca), depois de um jantar digno de montanhistas, com macarrão ao molho de tomate com queijo provolone e bis de sobremesa. Tomei apenas 1 unidade de insulina rápida, e dormi com uma caixinha de água de coco ao lado, me prevenindo de uma possível hipoglicemia noturna, devido ao intenso exercício (muita caminhada).
No dia seguinte, sem hipoglicemia noturna, acordei com um beija-flor sobrevoando a gente… enfim, esse tipo de coisa que dormir em um Parque Nacional, com a natureza conservada, nos propicia. Tomamos café, arrumamos “a casa”, subimos a Pedra da Cruz, para visualizar as próximas aventuras, e seguimos em direção ao Rio, descendo, felizes, a interminável trilha da Pedra do Sino e catando os lixinhos pela trilha. Glicemias muito bem, obrigada, sem muitos altos e baixos, como se pode ver nos gráficos abaixo.
Valeu rapaziada! Vocês são demais!
Beijos e até o próximo pico!
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