Desde que o Parque Nacional da Serra dos Órgãos entrou em nossa vida, quando viemos morar no Rio de Janeiro, pertinho dele, várias montanhas entraram na nossa lista de desejos. Então, quando nosso amigo curitibano Ermínio veio nos visitar, aproveitamos a visita para pegar nossa listinha de “mais uma, menos uma” e ir escalar o pico Nariz do Frade, e claro, a Verruga que fica na ponta.
A ideia era acordar bem cedo para entrar no Parque às seis, já com o pagamento da entrada e o Termo de Reconhecimento de Risco assinado. Acordamos às 4h30 da matina e chegamos no Parque às 9 da manhã…!!!
Acontece que a noite eu não dormi nada, pois rolou solto um funk em algum lugar entre o Morro dos Prazeres e Morro do Fallet, passando pelo Rio Comprido e entrando diretamente pela janela do nosso quarto, que acabou exatamente às 4 da manhã, quando enfim consegui dormir!
Por conta disso, durante a viagem para Teresópolis, eu dormi gostoso, enquanto o Erminio dirigia e o Alexandre co-pilotava até… Petrópolis… Bom, com esse pequeno desvio, algumas distrações na estrada entre Petrópolis-Teresópolis (que é bem bonita), uma parada para tomar café (chegar às 6h já não íamos mais, então só nos restou tomar um delicioso café), estacionar o carro, etc, conseguimos começar a caminhar umas 9 horas.
Tínhamos planejado ir para o Nariz do Frade a partir do caminho denominado “cota 2000”, escalar e voltar pela Travessia da Neblina. Com o atraso, resolvemos abandonar a ideia de fazer o percurso circular e ir e voltar pela Travessia da Neblina.
A caminhada é linda: até a Cachoeira do Papel é a mesma trilha para a Pedra do Sino que já conhecíamos, depois a trilha muda um bocado e fica empinada, mas nada além do esperado para uma boa caminhada de montanha, com as devidas paradas para medir a glicemia e alcançar uma barra de frutas na mochila. No paredão Roy-Roy tive que utilizar corda, já que todo o destemor da expedição estava com o Alexandre e o Ermínio, que não deixaram nada para mim 🙁 .
Muito visual, algumas paradas para medir a glicemia, tirar fotos, admirar a Agulha do Diabo, até chegar na base do Nariz do Frade, onde uma chaminé MUITO esquisita nos esperava.
Na base da via, além de toda a esquisitice da chaminé, começou a bater um friozinho (enquanto no Rio beirava os 40 graus… ah as montanhas! 😀 ). Antes da escalada, comemos um sanduichinho e no “momento-pâncreas” tive que diminuir uma dose da insulina (de ação) lenta, já que as chaminés e caminhadas deixam meu corpo mais sensível à ação da insulina.
O Alexandre, para variar, flutuou na chaminé, que é bem exposta. É incrível como sempre me iludo com a facilidade que ele tem para escalar, e quando vou na sequência, toda minha ilusão vem abaixo. Nessa chaminé então, minha ilusão afundou tanto que chegou até a Baía da Guanabara. Ôôô chaminé difícil!!! Só não desisti totalmente da escalada por conta do super apoio moral e “escalatício” dos meninos.
Depois da chaminé estranha, tem um pequeno lance de aderência, e um lance de off-width (uma espécie de fenda para entalar meio corpo, bem mais apertada que uma chaminé), que não sei como, passei melhor que na chaminé.
Depois disso tem um pequena caminhada por uma caverninha, se entra em um buraco e tchanãn!!! Sai no meio do Nariz do Frade, com um visual a-l-u-c-i-n-ó-g-e-n-o da Serra dos Órgãos, Três Picos, Serra da Caledônia, Baía da Guanabara, Rio de Janeiro que continua lindo. Ficamos um bom tempo curtindo o visual e conversando, antes de subir a pedra da Verruga do Frade, que é o cume propriamente dito.
Depois de alguns rapéis aéreos, chegamos novamente na base da via, onde comemos mais alguns sanduíches antes de fazer a trilha de volta.
Quando já estávamos na trilha da Pedra do Sino, especificamente no abrigo 1 (local onde medi a primeira glicemia na trilha), faltando uns 30 minutos para chegar no estacionamento, tropecei e torci o meu pé. Uma dor imensa, seguida de um alívio pensando “pelo menos não foi fratura exposta” Os 30 minutos que faltavam se tornaram uma hora e meia, pois não conseguia andar rápido, tomando cuidado para não tropeçar de novo. Depois de uns 20 minutos da torsão, senti o tremor típico de hipoglicemia e rapidamente comi duas barras de frutas.
Aliado ao fato de já ter anoitecido, estar com as pilhas da lanterna muito ruins e enxergar mal, ao cansaço (a chaminé acabou comigo), não descarto a possibilidade de nessa mistureba toda que me levou a torcer o pé, estar com hipoglicemia. Detalhe: além de diminuir a dose da insulina basal, só tomei a insulina rápida na padaria de manhã cedo – depois nos lanches, não precisei de insulina rápida, já que com o intenso exercício, as minhas doses de insulinas diminuem consideravelmente, e ainda tive hipo!
No dia seguinte, não teve jeito, pelo inchaço e dor no tornozelo, o Alexandre me levou pela orelha ao ortopedista. Raio X, ossinhos ok, articulação não muito bem, imobilizei meu pé, molho total por 5 dias, e como esse episódio foi antes do Carnaval, passei o feriado no “bloco do pé torcido” no sofá da casa dos meus pais, enquanto liberei o Ale para escalar umas montanhas belas e virgens no norte de Minas Gerais, quando ele conquistou uma montanha junto com o André e Cadu (e depois ele diz que eu sou ciumenta 😛 ).
Em um próximo relato, conto das minhas desventuras com meu pé.
Até a próxima!