Furando o Dedo de Deus (via Leste com Maria Cebola)

O Dedo de Deus é uma montanha que todo escalador que se depara com ela, quer subir. Com formato de agulha, foi onde ocorreu a primeira escalada no Rio de Janeiro, em 1912, pelos irmãos Teixeira. Essa montanha “histórica” para o montanhismo carioca e brasileiro, está protegida pelo Parque Nacional Serra dos Órgãos, e é facilmente admirada pelas pessoas que vão ou passam por Teresópolis.

Os dedos
Os dedos, meu e de Deus

Eu estava ansiosa desde que nos mudamos para o Rio para escalar essa montanha, e durante os preparativos da semana anterior, lendo blogs de escalada com todos os tipos de experiência para escalar o Dedo, fiquei ansiosa ainda, querendo viver o que o Dedo tinha “guardado” para mim.

Fomos, no dia 24 de agosto 2013, com o Rodrigo Primo, nosso novo amigo escalador em terras cariocas, que conhecemos escalando no muro em que treinamos toda semana. Saímos do Rio cedinho (4h30min da matina de sábado), para começar a escalar cedo, após preencher e assinar o TCR – Termo de Conhecimento de Risco para escalar no Parque.

Para escalar em montanha, o ideal é “quanto mais cedo, melhor”. Nunca se sabe os imprevistos que podem acontecer, e ninguém é muito a fim de passar a noite na montanha de forma desconfortável ou no perrengue. Nessa época do ano, inverno, dificilmente o tempo vira para uma tempestade que pode deixar o montanhista preso até a chuva passar, mas escurece mais cedo, e gostamos de fazer tudo certo para não dar nada errado.

Fizemos a trilha para a base da via em 40 minutos, e chegamos na base às 7h20, onde já haviam dois grupos escalando… (xiii, que droga)….

Ale nos cabos de aço
Ale nos cabos de aço

Enquanto o grupo na nossa frente subia (uma dupla de Sorocaba), nos preparamos, medi minha glicemia e comi uma barra de frutas. Subimos os cabos de aço (colocados nas rampas de rocha para acessar as bases das vias de escalada) logo atrás da dupla, e subindo rápido, logo colamos neles e tivemos que esperar alguns momentos para avançarem.

Para que usar lancetas se tenho cabo de aço para furar o dedo? (brincadeirinhas, não medi a glicemia assim e nem furei o dedo com cabo de aço)
Para que usar lancetas se posso raspar o dedo na rocha? (brincadeirinhas, não medi a glicemia assim)

 

 

 

 

 

Em um desses momentos, vi que meu dedo estava sangrando, o que nos rendeu algumas risadas em relação à medição de glicose…

Pela velocidade que estávamos, achamos que às 11 horas estaríamos no cume, aproveitando o visual. Mas quando a escalada começou de verdade, sem ter que subir por cabos de aço, e sim fazer os lances escalando, a dupla que estava na nossa frente encontrou o primeiro grupo (um trio paulistano), que estava na parede, e escalando de forma extremamente lenta: em casa, observando os horários das fotos nos momentos em que estávamos parados, enquanto esperávamos os grupos da frente, vimos que escalávamos 30 minutos e esperávamos cerca de 1h30!!!!!!!!!! Bem que se vê, nas fotos, minha cara de sono.

Acorda pra foto, Gali!
Acorda pra foto, Gali!

Além de termos que treinar toda a nossa paciência nessa situação, tive que ficar ainda mais atenta ao horário, pois se antes era certeza que às 12 horas eu estaria no cume  e poderia aplicar minha insulina de ação lenta tranquilamente, agora eu sabia que esse horário ia dar em algum lugar da parede, e o celular lá no fundo da mochila, com o despertador (sim, preciso de despertador para a insulina – geralmente é um horário em que estou muito concentrada no trabalho, ou pelas paredes e trilhas).

Depois do lance da Maria Cebola, a via entra por uma chaminé (onde se deve escalar apoiando os pés em uma parede, e o tronco na outra parede, com a mochila pendurada para baixo, entre as pernas, assim não atrapalha tanto… deu para entender? Prometo que vou tentar tirar uma foto das próximas chaminés, para ilustrar um pouco o perrengue). Entre esses dois trechos da via, a dupla de Sorocaba conseguiu ultrapassar o primeiro grupo (que se perdeu).

Dentro da chaminé, deu o horário da insulina (de ação) lenta, ainda bem que estávamos bem confortáveis para eu poder aplicar a insulina tranquilamente, e aproveitei para medir a glicose, pois essas chaminés exigem um esforço físico um pouco maior do que o restante da escalada, e poderia precisar de uma energia extra para não ter hipoglicemia.

Aplicando a insulina de ação lenta. Não parece, mas aqui estava bem confortável (melhor que pendurada na parede, acreditem!)
Aplicando a insulina de ação lenta. Não parece, mas aqui estava bem confortável (melhor que pendurada na parede, acreditem!)
Medindo a glicemia no meio do Dedo de Deus
Medindo a glicemia no meio do Dedo de Deus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O grupo paulistano estava muito lento na chaminé, e com isso, outros grupos começaram a nos alcançar. Como a chaminé é larga, resolvemos (o Ale resolveu, na verdade) subir por uma outra parte e assim conseguimos ultrapassá-los. Ufa!! (Ele me confessou depois que resolveu subir a chaminé quando subiu um pouco para tirar as minhas fotos de insulinização e viu um caminho alternativo).

Depois que ultrapassamos o grupo de paulistanos, a escalada fluiu, e rapidamente depois de algumas outras chaminés, o lance do “pulo do gato” e a escada, nos encontramos no cume, às 15 horas. Na “unha” do dedo, como diz minha mãe, 4 horas depois do previsto… Aqui vale o apelo, a mandiga, a reza braba: Paulistanos! Deixem o trânsito em São Paulo, peloamordedeus! 

Sobe por cabo de aço, trilha, pedra, escada, e vai subindo!
Sobe por cabo de aço, trilha, rocha, chaminé, escada, e vai subindo!

No cume do Dedo, o visual estava alucinante, com o mar de nuvens que amo de paixão, mostrando que em Teresópolis e no Rio de Janeiro estava nubladaço. Muita gente escalando, muita gente se encontrando no cume. Aproveitei para medir a glicose, que estava ok, comer, aplicar a insulina rápida e tirar algumas fotos.

O trio na pontinha do Dedo, e a galera: todos cabemos na ponta do Dedo de Deus
O trio na pontinha do Dedo, e a galera: todos cabemos na ponta do Dedo de Deus
Insulinizando no cume. Ô visual bonito!
Insulinizando no cume. Ô visual bonito!
Medindo a glicemia na ponta do Dedo de Deus
Medindo a glicemia na ponta do Dedo de Deus
Rapelzinho aéreo...fui! Até lá embaixo!
Rapelzinho aéreo…fui! Até lá embaixo!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nos preparamos para descer, pois não queríamos enfrentar trânsito novamente. Rapel aéreo, descida por trilha namorando o Escalavrado (montanha linda, linda), cabos de aço, e às 18 horas já estávamos caminhando na Rodovia. Mais uma escalada com a glicemia sob controle. 😀

Com certeza voltaremos ao Dedo, mas da próxima vez, ou já vamos dormir em Teresópolis, para fazer a trilha de noite e começar a escalar com o primeiro  raio de sol, ou vamos escalar só a partir das 11 horas, quando o “trânsito” na via já tiver sido liberado.

Dedo_agosto13 (87)
Visual da descida! Privilégio de escaladores 🙂

No dia seguinte, fomos explorar a Mulher de Pedra, que está no Parque Estadual dos Três Picos (uma das minhas áreas de trabalho 😀 ). Como estávamos um pouco cansados do dia anterior, começamos a caminhada às 12 e pouco (um pouquinho depois de aplicar a insulina no carro, na entrada da trilha) e queríamos chegar no Rio antes de escurecer, não chegamos até o cume do seio da mulher, pois é uma caminhada de 4 horas de ida. Mas já encontramos a trilha, e já temos mais uma caminhada na lista para fazer nos dias que estiver meio úmido e não der para escalar.

Lanchinho rápido, insulina rápida
Lanchinho rápido, insulina rápida na trilha, antes de descer de volta para seguir viagem.
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A Mulher de Pedra (Parque Estadual dos Três Picos), ficou pro próximo dia bom para trilhas.

Beijos e até o próximo pico!

  • Marja

    Gali, só hoje vi a divulgação do seu blog, pois chegou no meu email velho. Que surpresa mais gostosa! Parabéns pelo blog, que tá lindo! Tudo o que li só aumentou a minha admiração por você e a minha vontade de um dia visitar lugares tão especiais!
    Espero que possamos nos reencontrar logo logo…
    Boas aventuras por aí e um grande beijo!

    • Gali

      Oi Marja! Obrigada, queridona! Estamos esperando a sua visita na nossa casuca! Beijos

  • Tereza Hezim

    Que aventura fantástica! Certamente um grande aprendizado e demonstração de que tudo é possível desde que haja determinação, prazer, vontade, fé e, sobretudo, acreditar no amor! ELe remove montanhas e…escala tambem!!!! Uma lição de vida! Parabéns, Galiana. Um abraço, Tereza Hezim

    • Gali

      Obrigada Tereza! Abraços

  • Guilherme

    Parabéns pelo blog e por conseguir fazer aquilo que gosta! Boa sorte!

    • Gali

      Obrigada Guilherme!

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