Vou começar a escrever neste espaço sobre uma escalada que fiz recentemente para uma das montanhas mais admiradas e sonhadas por boa parte dos brasileiros: as Agulhas Negras, no Parque Nacional do Itatiaia!
Essa montanha, além de emblemática, está protegida no Parque Nacional do Itatiaia, lugar que selou meu destino como bióloga e conservacionista, e sem eu saber na época, como montanhista também, quando fui lá pela primeira vez em 1997, com 16 anos.
No final de semana de 17 e 18 de agosto, fui com o Alexandre (namoridão, sempre presente) e o Maurício Ruiz (companheiro de trabalho) para a parte Alta do Itatiaia. O Maurício não conhecia a Parte Alta, e nunca havia escalado, e para mim, seria a quarta vez a subir as Agulhas Negras, a segunda como diabética (fui no começo do ano também). Chegamos na sexta de noite, cortando o frio, nos alojamos no Abrigo Rebouças, para subir as Agulhas Negras no dia seguinte, bem cedo, pela Via Bira.
A via é tecnicamente tranquila (4 sup), embora com alguns lances expostos e é linda, com visual, e descemos a normal ou a pontão (daí já não sei qual é qual…)
O horário da insulina (de ação) lenta que tenho que tomar todos os dias às 12 horas deu um pouquinho antes de chegar no cume, faltava só mais um lance de escalada para chegarmos tranquilamente no cume, e aí sim, eu poder aplicar a insulina a 2.791 m de altitude, no Itatiaiaçu!
Antes desse último lance de escalada para chegar no cume, demos uma paradinha para desfrutar um mate e comer algo, pois eu já havia dado sinais de desnorteamento por conta da hipoglicemia: os meninos estavam me esperando em uma pedra para poder comer (pois eu já tinha sinalizado a necessidade) e eu me senti quase como uma barata tonta tentando chegar até eles. Olhei um buraco, e pensei – muito estreito; olhei o pulo da pedra e pensei – muito longe; olhei a desescalada e escaladinha e pensei – muito complicado; olhei os dois e pensei – como raios eles chegaram ali? Vendo eles tão perto e tão longe ao mesmo tempo, meus olhos se encheram de água. Enquanto isso o Ale só me perguntava “Gali, onde você quer ir?” “Gali, o que você quer fazer?”. Respirei fundo, vi que algo não estava certo, tirei minha mochila, sentei, comi duas balinhas. Depois de alguns minutos, levantei, peguei a mochila e passei pelo buraco, que é uma caverninha, e que de estreito não tem nada…
A hipoglicemia é algo que o diabético tem que estar atento, super atento, pois é uma faca de dois gumes. Como temos que tomar insulina pois nosso pâncreas não a produz mais, não podemos ficar muito tempo sem comer, ainda mais quando se está fazendo exercício e as células ficam mais sensíveis à insulina. Quando isso acontece, ou quando calculamos a dose errada de insulina e tomamos mais do que devemos, ocorre a hipoglicemia: a taxa de glicose no sangue fica muito baixa, e o diabético pode ficar desnorteado, tremer, suar frio, desmaiar, ter convulsões, etc etc. Muitos diabéticos acabam tomando menos insulina do que o necessário por medo das hipoglicemias, pois com o tempo, não sentem mais os sintomas (tremer, suar frio, etc) e já desmaiam… e assim mantêm as taxas de glicose mais elevadas (o que poderá trazer complicações no futuro). Como ainda estou no início da diabetes, eu sinto os sintomas da hipoglicemia e logo posso tomar as devidas providências para não acontecer o pior. Quando eu não sentir mais os sintomas da hipoglicemia, terei que monitorar com mais frequência a taxa de glicose no sangue, principalmente nos exercícios.
Depois do cume, rapelamos e subimos para o “segundo cume”, para pegar a trilha para retornar. Como havia um grupo meio grande na frente, ficamos um bom tempo ali, conversando e comendo (até tirei um cochilo), um frio de lascar. Vi que era um tempo de espera longo, e mais comida, e então apliquei uma dose de insulina rápida, só para dar uma ajuda extra para as células utilizarem a glicose disponível no sangue e estar disposta para a descida.
A descida foi tranquila, sem nenhum episódio diabético. E AQUELA lua veio nos saudar!
Imagem que vale mais que mil palavras.
No dia seguinte, passeamos pelas neblinas do Itatiaia, fomos na Pedra da Tartaruga (lugar que eu não conhecia) e subimos rapidamente as Prateleiras, pois não queríamos pegar trânsito pro Rio e o Maurício ainda tinha que ir para Miguel Pereira. Desfrutamos mais um mate e curtimos o friozinho invernal do Itatiaia. Delícia!
Beijos e até o próximo cume!
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